Alunos do curso de pós-graduação da UNIVAP realizam pesquisa sobre a história do Bairro Vista Verde - Cidade de São José dos Campos/SP.

09/04/2017 13:58

UNIVAP - posgrau

XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e

XIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba

 

 

CIDADE VISTA VERDE: UM BAIRRO PLANEJADO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP 

Trabalho/Pesquisa realizado por:

1. Jéssica Marques Ribeiro / e-mail , e 

2. Pedro Henrique de Oliveira Duarte / e-mail .

3. Orientadora: Profª Drª Maria Aparecida Papali / e-mail < papali@univap.br>

3. 1 – Núcleo de Pesquisa Pró-Memória São José dos Campos - UNIVAP;

3. 2 – Laboratório de Pesquisa e Documentação Histórica - UNIVAP;

3. 3 – IP&D - Instituto de Pesquisas & Desenvolvimento / Univap.

End.:- Av. Shishima Hifume, nº 2911, Campus Urbanova – CEP 12244-000 – São José dos Campos/SP. 

 

Resumo:- Este artigo tem como objetivo compreender em que contexto socioeconômico teve início o Bairro Cidade Vista Verde, localizado na Região Leste da cidade de São José dos Campos, SP. Foram utilizados como fontes os documentos oficiais disponibilizados pela Prefeitura Municipal de São José dos Campos, como o Diagnóstico do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 2006, intercalando-os com notícias e propagandas do jornal Agora do início da década de 1970. Utilizamos também depoimentos concedidos por moradores do bairro. A partir dessas informações podemos refletir acerca da aprovação de loteamentos que contemplavam estratégias de políticas públicas da época, pensando na cidade como um pólo industrial e tecnológico que tendia a crescer. 

Palavras-chave: Bairro Cidade Vista Verde, São José dos Campos, Industrialização, Plano Diretor. 

Área do Conhecimento: Ciências Humanas 

Introdução: O bairro Cidade Vista Verde, situado na Zona Leste da cidade de São José dos Campos, começou a ser loteado no ano de 1972 (SAVIVER, 2012). Naquele momento a cidade enfrentava um boom populacional que estava intimamente ligado ao grande crescimento industrial do período. Podemos observar que concomitantemente com essas transformações da cidade, políticas públicas municipais começaram a ser pensadas procurando solucionar problemas advindos desse processo de industrialização. Um dos problemas enfrentados em São José dos Campos era a descontinuidade da trama urbana, que de acordo com o Diagnóstico do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 2006, as indústrias de grande porte se instalavam distantes uma das outras e das áreas com grande densidade demográficas (PMSJC, 2006). Com o propósito de preencher esses vazios urbanos e com o aumento da demanda por habitação, a Prefeitura de São José dos Campos estimulou e aprovou loteamentos, principalmente nas Zonas Sul e Leste da cidade (PAPALI et al., 2010). O bairro Cidade Vista Verde foi pensado para atender a classe média, geralmente funcionários dessas novas indústrias instaladas na cidade. Assim como os bairros Bosque dos Eucaliptos, Jardim Satélite e Cidade Jardim, estes da Região Sul, que também foram aprovados na década de 1970 (PAPALI et al., 2010).

Diante dessas questões e a partir da análise de nossas fontes, buscamos compreender de que forma o bairro Cidade Vista Verde está relacionado com os planos municipais de desenvolvimento urbano e traçar o perfil dos moradores que buscaram esses tipos de bairros nos anos 1970. Metodologia Para o desenvolvimento dessa pesquisa, partimos de depoimentos orais de moradores do bairro Vista Verde, recolhidos pela equipe do Núcleo de Pesquisa Pró-Memória e de notícias e propagandas do jornal Agora acerca do momento estudado. 

Após análise desses materiais, nos embasamos em documentos oficiais disponibilizados pela Prefeitura Municipal de São José dos Campos e em produções acadêmicas referentes ao momento pelo qual passava a cidade de São José dos Campos. Além disso, consultamos a página na internet da SAVIVER (Sociedade Amigos do Vista Verde) e o Almanaque Petrobrás de 2009. Discussão A Condição de Estância Hidromineral e Climatérica designada a São José dos Campos em 1935 concedeu os alicerces à cidade para que futuramente se tornasse um grande pólo industrial e tecnológico. Isso ocorreu porque nesse momento, conhecido como fase sanatorial, o estado destinava recursos financeiros para a cidade e boa parte era investida na infraestrutura local (ZANETTI, 2012). 

Durante a fase sanatorial, a cidade já contava com indústrias de pequeno e médio porte que representavam principalmente o setor de cerâmica e tecelagem. Concomitantemente ao período sanatorial, podemos observar a primeira fase de industrialização Joseense. Na década de 1950 os sanatórios e pensões sanatoriais eram cada vez menos procurados pelos doentes, pois com a descoberta da penicilina a internação deixou de ser o principal tratamento para a tuberculose (ZANETTI, 2012). Nesse mesmo período iniciou-se a construção da Rodovia Presidente Dutra, que liga duas grandes metrópoles: São Paulo e Rio de Janeiro. Por estar nesse eixo, São José dos Campos tornou-se privilegiada. Em conformidade com as diretrizes tomadas pela política nacional desenvolvimentista das décadas de 1950 e 1960, a localização de São José dos Campos aliada à sua infraestrutura, que estava se desenvolvendo desde seu período sanatorial, atraiu para a cidade indústrias de diferentes setores. 

Outro fator que contribuiu para a chegada de mais indústrias foi a instalação do CTA, do ITA e do INPE (PAPALI et al., 2010). Esse período caracteriza-se como a segunda fase de industrialização da cidade, onde indústrias de grande porte se instalaram em São José dos Campos, diferentemente de sua primeira fase de industrialização. São exemplos dessa época as nacionais Avibrás e Embraer e as multinacionais Eaton e General Motors (PAPALI et al., 2010). Nessa segunda fase observamos um grande crescimento urbano em São José dos Campos “(…) sendo abertos vários loteamentos para atender à demanda por habitação da classe operária (…)” (PAPALI et al., 2010: 149). 

De acordo com o Diagnóstico do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 2006, em sua análise acerca do primeiro Plano Diretor (1958 – 1964) do Município, a cidade vinha se desenvolvendo de maneira caótica e desorganizada, por conta dessas diversas indústrias que se instalavam sem critérios de localização. Em vista disso: “A malha urbana já apresentava um grau de dispersão considerável abaixo da Rodovia Presidente Dutra, em especial, na Região Leste” (PMSJC, 2006:22). A prioridade para o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDDI – “Foi propor a delimitação das áreas urbanas e de expansão urbana” (PMSJC, 2006:23).

No final da década de 1960, São José dos Campos já tinha fortes características industriais. Já haviam se instalado na cidade grandes indústrias, como: Alpargatas, Matarazzo, Amplimatic e Avibrás. Juntamente com esse desenvolvimento urbano e industrial, a cidade começou a passar por problemas como os identificados no Diagnóstico do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 2006: “(…) baixa densidade e descontinuidade da trama urbana, cortada por uma rodovia [Presidente Dutra] cujo tráfego tendia a crescer (…)” (PMSJC, 2006: 24). 

Diante dessas questões, inicia-se a elaboração do segundo PDDI do município em 1968, buscando solucionar esses problemas em longo prazo. Entre as principais medidas previstas pelo plano, estimular a ocupação do solo e o adensamento de grandes vazios da cidade foi uma estratégia que visava dar continuidade à trama urbana (PMSJC, 2006). O PDDI foi instituído na Lei Municipal nº 1.623, de 30 de novembro de 1971. Nesse novo contexto, na década de 1970, São José dos Campos passava pela sua terceira fase de industrialização, já deixava muito distante as características de cidade sanatorial e não era mais procurada por tuberculosos em busca de cura. 

Os novos moradores agora eram atraídos pelas oportunidades de emprego nas fábricas que se instalavam na cidade. Entre os anos de 1960 e 1970, podemos observar um aumento significativo no número de indústrias instaladas na cidade, assim como o número de habitantes. Em 1960 havia 72 indústrias e 77.533 habitantes; enquanto que no ano de 1970 os números saltaram para 284 indústrias e 150.884 habitantes (SOUZA; COSTA, 2010). Com o grande crescimento populacional, inúmeros loteamentos foram aprovados na cidade com a intenção de atender a esse aumento na demanda por habitação. A região que apresentou maior crescimento urbano foi a Zona Sul, seguida pela Zona Leste. O crescimento dessas duas regiões, como vimos, é resultado de uma política habitacional adotada pelo município com a instituição do Plano Diretor de 1971 (PAPALI et al., 2010). Com relação à Zona Leste da cidade, o PDDI identificou grandes áreas desocupadas nas proximidades do bairro Vila Industrial. Classificou a região como “área de expansão alternativa” e aprovou alguns loteamentos que eram dedicados à classe média (PAPALI et al.,2010).

Um loteamento aprovado dentro dessa dinâmica econômico-social foi o Bairro Cidade Vista Verde. O bairro começa a ser planejado a partir de 1972, quando: “Em 12 de outubro de 1972, esteve em visita a São José dos Campos, uma comitiva de empresários americanos com o objetivo de comprar uma grande área onde pudessem construir 6.000 residências de padrão classe média alta, da época” (SAVIVER, 2012). No mesmo ano a antiga Fazenda Santa Fé foi loteada, originando o bairro Cidade Vista Verde. 

O bairro foi inaugurado em 1974, mesmo ano em que teve início as obras de construção da Refinaria Henrique Lage – Revap (PETROBRÁS, 2009). A construção e venda das novas casas foram realizadas pela Ibecasa Brasileira S/A Construções e Imóveis, empresa ligada ao grupo norte-americano IBEC – International Basic Economy Corporation (jornal Agora, 1974). A criação do Plano Nacional de Habitação permitiu o financiamento de residências em longo prazo (jornal Agora, 1974). Isso contribuiu para a venda das casas do Vista Verde. Essas casas se dividiam em cinco categorias de acordo com o seu tamanho. 

Segundo o entrevistado Oséas de Moraes, que trabalhou na construtora Ibecasa e é morador do bairro Cidade Vista Verde desde 1974, os compradores das casas do bairro eram funcionários de empresas que já se encontravam em São José dos Campos. De acordo com Moraes: “(…) essas casas então foram sendo vendidas pra esses funcionários que tinham mais ou menos um salário razoável que podia pagar” (MORAES, 2012). 

Em notícia do jornal Agora de 9 de janeiro de 1974, confirma-se esse perfil dos moradores do bairro: “Segundo Gerson Lisboa, gerente de vendas da Ibecasa, os compradores das casas são engenheiros e técnicos com uma renda média de Cr$ 4 mil. Percentualmente 44% dos compradores da Cidade Vista Verde até agora são funcionários da General Motors do Brasil, 38% são funcionários do CTA e Embraer e o restante é composto pelos próprios moradores da cidade que desejam sair dos problemas urbanos que o progresso traz” (jornal Agora, 1974). 

Com essas informações acerca do perfil dos moradores do bairro Vista Verde, percebemos que o bairro atendeu parte de uma grande demanda por habitação, formada pela classe média. Os moradores do bairro, como visto anteriormente, eram em sua grande maioria trabalhadores de diversas indústrias existentes na cidade. No diagnóstico do PDDI de 2006, referente às características socioeconômicas atuais do Vista Verde, nota-se que o perfil de classe média do bairro se manteve: “A taxa de desemprego é inferior à média da cidade e o nível de escolaridade é superior”. “É elevada a média de automóveis por domicílio (…)” e “(…) existe um expressivo percentual de domicílios próprios que ainda estão em pagamento” (PMSJC, 2006: 77). O entrevistado Epaminondas de Paula Freitas Filho, presidente da SAVIVER, afirma que atualmente: “O perfil aqui na verdade é um pessoal assim de uma classe média (…) e geralmente é funcionário da Petrobrás, da Embraer, da General Motors” (FILHO, 2012). 

Notamos neste depoimento que Embraer e General Motors aparecem como principais empregadoras dos moradores do Vista Verde, assim como em notícia do jornal Agora de 1974, já mostrada anteriormente. A Petrobrás, citada por Epaminondas Fillho, é a Revap, refinaria da Petrobrás que é vizinha do Vista Verde. A Revap foi inaugurada oficialmente em 1982 e é também uma das principais empregadoras dos moradores do Vista Verde. Este depoimento de Epaminondas Filho reforça o perfil dos moradores do bairro Cidade Vista Verde, o qual, como já vimos, foi pensado dentro de uma dinâmica de intenso crescimento urbano e industrialização da cidade de São José dos Campos. 

Conclusão: O Bairro Cidade Vista Verde teve início em um período no qual São José dos Campos passava por sua terceira fase de industrialização, marcada por intenso crescimento industrial e populacional. Diversas indústrias de grande porte se instalavam na cidade, atraindo novos moradores em busca de emprego. Dentro das políticas públicas adotadas pelos PDDI’s, como a ocupação dos chamados vazios urbanos, causados pelo crescimento desordenado do município, vários loteamentos foram aprovados. Esses novos loteamentos eram dedicados principalmente a esse novo perfil de moradores que estavam chegando a São José dos Campos, uma classe média que trabalhava nas fábricas.

Bairro Cidade Vista Verde foi um desses loteamentos dedicados à classe média. Hoje, a característica principal dos moradores do bairro continua sendo a de trabalhadores das principais fábricas de São José dos Campos.

Referências:

PAPALI, Maria Aparecida; COSTA, Sandra Fonseca da; ZANETTI, Valéria; ALMEIDA, Douglas; CARVALHO, Luciane do Carmo Guimarães de. Dinâmica Urbana da Zona Leste de São José dos Campos, SP e a Refinaria Henrique Lage (Revap). In: COSTA, Sandra Maria Fonseca da; MELLO, Leonardo Freire de (org). Crescimento Urbano e Industrialização em São José dos Campos. Coleção São José dos Campos: História & Cidade. Volume V, São José dos Campos: Intergraf, 2010. 

PETROBRÁS. Almanaque Petrobrás. 2. ed. São José dos Campos. 2009. 

PMSJC - PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – Diagnóstico. 2006. Disponível em: . Acesso em: 20 de julho de 2012. 

SAVIVER - Sociedade Amigos do Bairro Cidade Vista Verde. Disponível em www.saviver.org: Acesso em: 23 jul. 2012. 

SOUZA, Adriane Aparecida Moreira de; COSTA, Wanderley Messias da. "Atividades Industriais no Interior do Estado de São Paulo": Uma Análise da Formação do Complexo Tecnológico-IndustrialAeroespacial de São José dos Campos. In: COSTA, Sandra Maria Fonseca da; MELLO, Leonardo Freire de (org). Crescimento Urbano e Industrialização em São José dos Campos. Coleção São José dos Campos: História & Cidade. Volume V, São José dos Campos: Intergraf, 2010. ZANETTI, Valéria. Cidade e Identidade: "São José dos Campos, do Peito e dos Ares". São Paulo: Annablume, 2012. 

Fontes

Jornal Agora. 1974. 

Arquivo Público de São José dos Campos – Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR).  

Depoimento Oral:

FILHO, Epaminondas de Paula Freitas. Acervo de depoimentos orais – Laboratório de História Oral – Univap, 2012. 

MORAES, Oséas de. Acervo de depoimentos orais – Laboratório de História Oral – Univap, 2012.

XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e

XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba

 

Apoio:-

SAVIVER - Sociedade Amigos do Bairro Cidade Vista Verde

Fundada em 3 de fevereiro de 1977